Rafa Brites, mãe de Rocco e esposa de Felipe Andreoli, conta como foi a adaptação dela depois que seu filho começou a engatinhar.
“Me mudei para o Rio de Janeiro quando meu filho tinha 1 mês e meio. A casa nova tem uma piscina no jardim, para o qual todos os cômodos têm portas de correr de vidro. Em termos arquitetônicos isso é incrível, mas, logo que um bebê de 10 meses começa a engatinhar sozinho, pais e mães querem mesmo é que a beleza do lugar se dane: Vamos cercar a piscina!
E muita gente ficava me perguntando quando, afinal, faríamos isso. Na verdade, nunca pensei em não cercá-la, mas acabei lendo alguns relatos de pais que deixaram de proteger suas varandas, sacadas ou piscinas, pois se sentiam seguros apenas explicando de forma severa aos filhos que “ali não podia”. Mas logo que Rocco começou a andar, eu estava com planos de mudar de casa em alguns meses, então, achei que poderia segurar um pouco o gasto com a cerca.
Estipulei que todas as portas da casa deveriam ficar trancadas dia e noite. Vez ou outra, peguei algumas abertas e, só de olhar, ficava de pernas bambas. O que era para ser uma diversão, passou a me assombrar. Cada vez que olhava para essa linda piscina de pedra, sentia um arrepio na espinha.
Até que, em uma certa manhã, eu e meu marido estávamos assistindo ao jornal e escutei Solange, que trabalha conosco, falando:
– Rocco, o que você está fazendo aí?
Sim, ele estava sentado com os pezinhos na piscina. Não preciso nem falar que fiquei tremendo. Sem mais. Coloquei cerca em volta de cada pedacinho da piscina e ainda pedi urgência ao instalador.
“Em que momento passamos a confiar no discernimento deles? QUE DIFÍCIL!”
Que alívio!
Sei que não tenho como preservar meu filho de todos os perigos, mas jamais me perdoaria por uma negligência dessas. Infelizmente, sempre ouvimos histórias sobre… Deixa para lá. Não consigo nem falar sobre o assunto. Também não consigo confiar na teoria da palavra e da educação para uma criança tão pequena, que não tem noção dos riscos que corre.
Agora, com o caso literalmente encerrado, pensei no símbolo da cerca. Até certa idade, conseguimos deixar os pequenos “cercados” no colo, no berço… Mas chega uma hora em que não dá mais para segurá-los. Isso me fez refletir sobre quanto ainda teremos de intervir na vida dos nossos filhos para protegê-los.
Já tampei todas as tomadas, as quinas de mesas, fechei os vasos sanitários… No entanto, me pergunto: em que momento passamos a confiar no discernimento deles? Que difícil!
Sou otimista, mas sei que o mundo pode ser um lugar perigoso. Como será essa construção para que Rocco tenha seu próprio escudo? São perguntas que vieram à tona. Vejo pais de adolescentes acompanhando pelo aplicativo o trajeto do táxi na madrugada. Como explicar que essas são medidas de segurança e não de controle? E, é claro, penso no terror de quem mora em regiões mais vulneráveis.
Talvez a resposta seja fazer tudo que está ao meu alcance e, para o que for além disso,contar com aquilo de que mais me cerco depois que virei mãe, para viver em paz: a fé.”
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